Aumento do público que mora com os pais e que consegue direcionar boa parte da renda para compras pessoais deve gerar maior interesse do mercado

 

 

Fotos: Ricardo Chicarelli
O vendedor Caíque Monteiro, 22 anos, conta que não abre mão
de estar conectado à internet pelo celular o tempo todo


 
 

 

O consumidor jovem já representa 57% da movimentação financeira do País, com R$ 32 bilhões em poder de compra ao ano, o que faz com que o interesse das empresas se volte à análise do perfil do público de 17 a 30 anos. Como 68% deles ainda moram com os pais e 33% recebem mesada além de outros tipos de renda, é preciso superar a noção de que se trata de um público sem recursos para compras, conforme a quarta pesquisa Radar Jovem, relativa a 2014 e feita pela B2. 

Somente para gastos pessoais, 48% dos jovens têm até R$ 500 disponíveis e um em cada quatro conta com mais de R$ 1 mil. Quando questionados sobre as cinco prioridades de compras, entretanto, as contas domésticas aparecem apenas na quinta colocação, com 46%. A liderança fica nos gastos com tarifas de serviços de telecomunicações (55%), como internet e telefone celular, seguida por transporte (53%), vestuário (48%) e supermercado (47%). Assim, segundo a pesquisa, as empresas precisam de estratégias de comunicação voltadas a esse público, porque há disposição para o consumo.

Sócia-diretora da B2, Viviane Rodriguez diz que existe um paradigma no mercado de que o consumidor somente se tornará rentável após os 30 anos, mas a pesquisa mostra que uma boa parcela da população abaixo dessa idade tem até R$ 1,5 mil ao mês para gastar somente com produtos voltados ao bem-estar pessoal. "As marcas precisam ter consciência maior disso, ou esse jovem vai passar direto pelo seu produto", conta. 

Para o economista Marcos Rambalducci, da Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil), vale destacar a mudança de comportamento das famílias nas últimas décadas. "Antes, eles deixavam a casa dos pais mais cedo e hoje esse jovem demora mais para ter a própria família, tem mais tempo de estudo, poder aquisitivo melhor e sabe que pode perder certos luxos que tem na casa dos pais se for morar sozinho", conta. 

Um exemplo é que é dada grande importância por esse público estar conectado. Além das contas de telecomunicações liderarem entre as prioridades de compra, somente 26% cortariam a internet ou o celular quando questionados sobre quais itens de consumo valem sacrifícios. Serviços e produtos de primeira necessidade, como pagar instituições de ensino (50%), remédios (36%), contas domésticas (34%) e supermercado (31%) são mais lembrados. 

Ainda, quando há necessidade de cortes de gastos, as contas de telecomunicação são consideradas por apenas por 7%. A balada é deixada de lado por dois em cada três jovens, seguida por vestuário (64%), restaurantes (60%), viagens (52%) e itens de beleza (48%). "As empresas precisam pensar na forma de se comunicar e de disponibilizar produtos para esse público, se seu site está preparado para o acesso pelo celular, porque a programação da página, o tipo de informação e o acesso são diferentes", exemplifica a diretora da B2. 

Rambalducci lembra ainda que, na casa dos pais, os jovens ganham a condição de economizar para comprar a casa própria no futuro, algo que já entrou na mira de algumas construtoras. "Existem as que fazem propagandas para aqueles que terão o primeiro imóvel ou as que pedem pagamentos em balões que amortizam a dívida até que se tenha acesso mais fácil ao financiamento." 

A ajuda financeira familiar é a principal fonte de renda para 34% dos jovens, seguida pelo estágio remunerado (27%), o trabalho com carteira assinada (22%) e o trabalho informal (9%). Os três dados não excluem a terça parte que recebe mesada, conforme o estudo.



Fonte: Folha de Londrina, 26 de outubro de 2015