Trabalhadores receberam a primeira parcela do benefício que deve ser encarado como extra e não como "salva-vidas", dizem especialistas

 


Ontem foi dia do pagamento da primeira parcela do 13º aos trabalhadores. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), R$ 9,217 bilhões serão pagos a 5,105 milhões de trabalhadores no décimo terceiro deste ano no Paraná. As empresas que optaram por dividir o benefício em duas parcelas têm até o dia 20 para pagar o restante aos seus funcionários. 

Sem planejamento, muita gente acaba por ceder aos impulsos e fazendo uso inconsciente da renda extra do fim de ano. Uma pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) mostrou que cresceu o número de pessoas que afirmaram não saber o que fazer com o 13º – de 5%, em 2014, passou para 16% em 2015. 

Isso, na opinião do educador financeiro José Vignoli, do portal Meu Bolso Feliz, é algo grave. "Mesmo com a situação adversa do mercado de trabalho, aumentou o número de pessoas que não sabem o que fazer com o 13º. Elas podem sofrer a pressão do Natal e fazer compras impulsivas." 

O ideal, para quem tem dívidas, é utilizar o benefício para quitar estas pendências, afirma Vignoli. Esta é a opção de 24% dos entrevistados na pesquisa. Ao mesmo tempo, porém, 43% querem usar ao menos parte do 13º para comprar presentes. 

"Mesmo que não se tenha todo o valor para pagar as dívidas, use o possível para fazer uma renegociação, nem que o Natal tenha que ser fraquinho e o Reveillon seja feito em casa", orienta o educador. Ao comprar presentes, é importante manter em mente que no início do ano há o pagamento de impostos (IPTU, IPVA) e outras despesas. Por isso, o melhor a ser feito é evitar dividir as compras de Natal em muitas parcelas. 

 

EXTRA


Quando instituído em 1962, o décimo terceiro salário tinha o objetivo de ser um "presente" ao trabalhador, lembra Jó Adriano da Cruz, educador financeiro da DSOP Educação Financeira. Entretanto, as pessoas acabaram por encarar o benefício como um salva-vidas do orçamento familiar, utilizando-o para pagar as dívidas, frutos do descontrole financeiro do ano todo. "As pessoas ficaram mal acostumadas", comenta Cruz. 

"O 13º não está na programação. É um mês a mais de um ano que não existe", diz ainda o economista e professor da Faculdade Faccar de Rolândia, Márcio Massaro. Para o economista, as pessoas poderiam muito bem viver sem o décimo terceiro salário, e por isso o benefício deveria ser encarado como um extra, e não como parte do orçamento. "Se o consumidor encarasse o 13º como um ‘plus’, ficaria mais fácil ter a concepção de que ele deve ser poupado." Mas, infelizmente, não é isso o que acontece. 

Se o trabalhador tem dívidas, a prioridade é quitá-las, e isto é unanimidade entre os economistas e educadores financeiros. As pendências que possuem os juros mais caros, como o cartão de crédito e o cheque especial, devem ser os primeiros da lista. 

Mas, para Massaro, todo trabalhador também tem direito a se presentear e presentear a família. "Não é de todo errado viajar, por exemplo. Afinal de contas, o 13º é fruto do trabalho de um ano. Não vamos ser escravos do dinheiro - precisamos lembrar que o dinheiro é um meio, e não um fim." Em terceiro lugar, é preciso pensar nas despesas do ano seguinte e estar preparado financeiramente para estes compromissos. 

 

SONHOS
 


As dívidas são uma maneira dolorosa de aprender que a falta de planejamento pode resultar em um final de ano menos farto e sem a possibilidade de realização de sonhos, diz Jó Adriano da Cruz, da DSOP. Para o ano seguinte, ele recomenda ao trabalhador monitorar as despesas por um mês para saber quanto gasta e para onde vai o dinheiro. "O início do ano é um bom momento para fazer isso." Em seguida, é hora de readequar o orçamento de acordo com a realidade financeira, já incluindo aí as parcelas necessárias para o trabalhador realizar seus sonhos, seja uma viagem, um carro, uma moto, um curso ou mesmo uma aposentadoria sustentável. "O importante é guardar primeiro. É preciso inverter a lógica: ao invés de correr atrás do endividamento, correr atrás do sonho."



 


Fonte: Folha de Londrina, 01º de dezembro de 2015