A classe média é a que mais mudou o perfil de consumo em supermercados, com redução no volume de vendas de três em cada cinco categorias de produtos supérfluos em agosto deste ano ante o mesmo mês de 2014. O índice de 59% é maior do que na comparação com famílias de perfil de renda alta, de 33%, e baixa, de 32%, segundo a pesquisa Tendências Nielsen (janeiro a agosto de 2015), o resultado se explica pela maior ascensão da renda no grupo mediano nos últimos anos e pela baixa possibilidade de substituição de itens para os mais pobres.
Também nos itens básicos a classe C sofreu a maior redução no número de categorias, com perda de consumo de 46%. Na sequência aparecem os grupos AB, com 44%, e DE, com 16%. Na pesquisa, a Nielsen considerou que os mais ricos têm 32 categorias básicas e 24 supérfluas, os medianos têm 24 e 32, respectivamente, e os mais pobres, 19 e 37.
Analista de mercado da Nielsen, Paula Valadão afirma, na pesquisa, que os consumidores da classe C estão mais endividados e são os que mais descartam comprar itens supérfluos para priorizar alimentos e produtos de necessidade básica. O estudo aponta que o volume de vendas da cesta de produtos dos grupos Limpeza, Higiene e Beleza, Bebidas Alcoólicas, Bebidas Não Alcoólicas, Perecíveis e outros itens de Mercearia caiu 2,9% na comparação entre junho e agosto de 2015 com o mesmo período de 2014. A analista da Nielsen diz que a tendência é que a cesta analisada pela empresa tenha retração de até 1,8% no fechamento de 2015.
Para a professora Maria Eduvirges Marandola, que coordena um curso de orçamento doméstico na Unifil, a explicação se dá pela relação direta entre crescimento da renda e dos gastos no consumo. "Tivemos alguns anos com ganhos de rendimentos nas famílias da classe C, que incorporaram novas marcas e produtos na cesta familiar, e agora vivemos uma situação oposta e é preciso deixar de consumi-los", conta.
O consultor econômico da Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil), Marcos Rambalducci, considera que os mais ricos sofrem menos porque o percentual da renda usado no consumo é menor do que para a classe média. "Já a classe DE já não consome muito os bens supérfluos e não pode deixar de consumir o básico por questão de sobrevivência, então também coloca mais gente da família para trabalhar", explica. Ainda, ele completa que os empregos de menores salários ainda estão mais disponíveis do que os mais qualificados.
Com a crise econômica, o desemprego e a inflação, Rambalducci lembra que o consumidor cria soluções próprias. "Podem diminuir o uso, diluir produtos ou mesmo comprar um sabão em pó de marca menos conhecida e misturar com um de marca famosa para reduzir o custo."
Atacarejos
Conforme a pesquisa da Nielsen, os atacados supermercadistas que vendem produtos ao consumidor final, conhecidos como atacarejos, passaram a atingir 1,5 milhão de lares a mais em 2015 do que no ano anterior, com redução de gastos deflacionados de 5,8%.
Assim, a penetração no mercado desse tipo de estabelecimento subiu de 30,8% até agosto do ano passado para 35,6% no mesmo período deste ano, enquanto os hipermercados ficaram praticamente estáveis, de 31,1% para 31,7%. "A pessoa precisa fazer com que o consumo caiba em um orçamento menor e alguns atacarejos possuem marcas próprias, outras desconhecidas ou ainda preços menores para compras em pacotes maiores", diz Maria Eduvirges.
Rambalducci também lembra que o País está com inflação maior neste ano. "O consumidor faz o máximo para o salário durar o mês e compra toda a base para o período logo no início, como garantia. Quando os preços variam menos, ele não se preocupa tanto e vai mais ao mercado."
Fonte: Folha de Londrina, 07 de dezembro de 2015