Economistas discutem quando a taxa de desocupação vai chegar a 10%
 

As empresas brasileiras demitiram 7,8 mil profissionais de recursos humanos em 12 meses, entre eles 3,5 mil gerentes e 67 diretores. Em outras palavras, a economia chegou ao ponto em que até os responsáveis pela gestão do quadro de pessoal são mandados embora, o que diz muito sobre as perspectivas para 2016.

Economistas que acompanham o mercado de trabalho já não discutem se a taxa de desemprego chegará a 10%, mas quando. No terceiro trimestre, o índice nacional estava em 8,9%, o maior da série histórica da Pnad Contínua, do IBGE, iniciada em 2012. Sobram indícios de que ele continuará em alta.

“A proporção de pessoas reportando que está difícil encontrar emprego aumentou novamente, de 92%, em outubro, para 92,8%, em novembro”, disse o economista-chefe do Itaú, Ilan Goldfajn, em relatório recente. Ele prevê que o desemprego alcançará 10% ainda neste ano, subindo a 12% até o fim de 2016.

Se confirmada essa projeção, o índice vai superar picos alcançados em 1999, 2002 e 2004, todos inferiores a 11%, segundo “reconstrução” da Pnad Contínua feita pelo economista Bráulio Borges, da LCA Consultores.


Chama atenção a velocidade com que o desemprego saiu de níveis historicamente baixos em direção a marcas recordes. “Nas regiões metropolitanas, ele caiu por dez anos até 2014. Mas então subiu de tal forma que, em outubro, alcançou taxas iguais às de seis anos atrás”, observa João Saboia, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Embora a recessão tenha começado ainda na primeira metade de 2014, o mercado de trabalho demorou a reagir, até porque a legislação e os custos para demitir e contratar desencorajam atitudes impulsivas. Muitos empresários esperavam uma virada da economia em algum momento; quando a fé acabou, passaram a demitir em massa.

“É natural que a resposta tenha sido lenta. Mas já está ocorrendo, e de forma cada vez mais rápida e intensa, devendo ampliar-se ainda mais em 2016”, afirmou a Rosenberg Associados, em comentário enviado a clientes.


Qualidade

Enquanto o desemprego sobe, a qualidade do emprego cai. O trabalho com carteira assinada dá lugar à informalidade. O poder de compra do salário, corroído por uma inflação anual de quase dois dígitos, diminui.

“As perspectivas são muito ruins. Por razões econômicas, mas também políticas. A paralisação de propostas no Congresso dificultará a recuperação”, diz Saboia, da UFRJ, autor de um índice que busca refletir a situação do mercado de trabalho com base em variáveis como o nível de escolaridade dos ocupados e a proporção de empregos formais. Nos últimos meses, o indicador retrocedeu aos níveis de 2011.

Se está difícil vislumbrar uma retomada para a economia, ainda mais complicado é prever quando os empresários vão se animar a ponto de voltar a contratar.

“Primeiro, é preciso desatar o nó político. Depois, implementar de fato um ajuste fiscal e então, com alguma alta na confiança, resgatar os investimentos”, diz Anita Kon, professora de Economia da PUC-SP. “Não vejo isso no primeiro semestre de 2016, e não sei se veremos no segundo.”

DOIS DÍGITOS

A taxa de desemprego medida em todo o país pela Pnad Contínua avança rapidamente rumo aos dois dígitos. Economistas acham que isso pode ocorrer ainda neste ano, ou no começo de 2016.

DEMISSÕES À VISTA

Pesquisa do ManpowerGroup com 851 empregadores do país mostra que há mais empresas planejando demitir do que contratar funcionários no primeiro trimestre de 2016. O índice no Paraná é um pouco melhor, mas igualmente negativo.

MENOS EMPREGO, E DE MENOS QUALIDADE

Um índice criado pelo economista João Saboia, da UFRJ, busca refletir a quantidade e a qualidade do emprego no Brasil. Depois de atingir seu maior patamar em 2014, ele retrocedeu, nos últimos meses, aos níveis de 2011.

*Diferença entre o porcentual de entrevistados que pretendem contratar e o porcentual dos que pretendem demitir. **O índice é calculado a partir de nove variáveis da Pesquisa Mensal de Emprego, do IBGE: taxa de desocupação, desemprego de longa duração, desemprego de chefes de família, rendimento médio real, subremuneração, desigualdade de remuneração entre os formais e informais, formalidade, subocupação e nível de escolaridade.

Fonte: ManpowerGroup, economista João Saboia.

Fonte: Gazeta do Povo, 21 de dezembro de 2015