Farta oferta de crédito e falta de conscientização sobre o consumo consciente podem se tornar uma armadilha para o consumidor


por Luís Fernando Wiltemburg



Hábito que não faz parte da rotina da maioria dos brasileiros, a educação financeira pode evitar que as famílias caiam na bola de neve do endividamento e pode ajudar a salvar quem já está no vermelho. Para especialistas, a farta oferta de crédito de até dois anos atrás e a falta de conscientização sobre o consumo consciente podem se tornar uma armadilha para o consumidor.


Educação financeira é a criação de uma mentalidade e de hábitos saudáveis em relação ao dinheiro, consumo e investimentos, segundo o planejador financeiro da Fort Investimentos, Gabriel Vansolini Soldado. O profissional avalia que o brasileiro não é educado financeiramente e não aprende a lidar com dinheiro. "Nos últimos anos, o consumo das famílias brasileiras cresceu muito se baseando em crédito farto. Agora que está mais escasso e caro - estamos com a maior taxa de juros desde 2006 -, muitas famílias se viram endividadas", diz.


O educador financeiro e criador do blog "Quero Ficar Rico", Rafael Seabra, concorda com o ponto de vista: "Num primeiro momento, não é tanto nossa culpa ficarmos endividados, porque não é ensinado nas escolas ou pelos pais. Não dá para esperar do governo, da escola ou da família. Temos de buscar sozinhos", afirma.


Para manter os ganhos sob controle, Seabra aconselha anotar absolutamente todas as despesas por um período de 30 dias. "Pode ser em um pedaço de papel e, quanto mais simples, melhor. Com isso, vai ter um relatório dos gastos mensais", afirma. Seabra recorda que são os gastos do dia a dia que minam a conta bancária, como as pequenas parcelas de uma camisa adquirida no impulso.


Vansolini diz que não há motivos para fugir da regra, já que, hoje, há diversos aplicativos para smartphones que permitem fazer o controle. "Se não tiver, pode ser em um bloco de notas virtual para passar no papel depois." Isso auxilia quem já está endividado a diagnosticar se o perfil de consumidor condiz com suas necessidades e objetivos.


De acordo com os especialistas, esse controle mensal vai ajudar a eliminar gastos que viram bola de neve, como o consumo baseado em cartão de crédito ou tomando o limite bancário como parte do orçamento mensal.
Sobre dívidas com bancos, Vansolini é taxativo: "Não adianta fugir". Segundo ele, a melhor alternativa é encarar a situação e buscar uma renegociação antes mesmo de ser procurado, porque passa mais credibilidade ao credor e pode levar a obter juros e condições melhores.


Ele também aconselha a trocar dívidas por outras com juros menores, como empréstimos consignados ou com garantias imobiliárias. O comprometimento dos recursos das famílias com instituições financeiras cresceu exponencialmente: foi de 18% da renda acumulada em janeiro de 2005 para 44,65% em janeiro deste ano.


O planejador financeiro diz que é preciso reconhecer a dificuldade em controlar o orçamento, principalmente diante da maior recessão econômica da história do Brasil e de uma inflação de dois dígitos. "Mas o esforço é necessário para seguir em frente e ter uma vida financeiramente mais tranquila", diz. E Seabra complementa: "Não pode abandonar os hábitos depois da situação controlada".



Fonte: Folha de Londrina, 18 de abril de 2016.