Câmara Brasil-Alemanha aponta caminhos para retomada do crescimento e critica falta de projeto de desenvolvimento econômico no PR
por Adriana de Cunto
"O Brasil continua sendo um mercado muito interessante para as empresas alemãs, apesar da crise", afirmou ontem o diretor da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK Paraná), Andreas Hoffrichter. Como não poderia deixar de ser, a crise econômica e política brasileira foi o principal assunto de um encontro entre conselheiros da AHK-PR, ontem, em Curitiba, com um grupo de jornalistas.
A entidade tem como objetivo estimular parcerias entre Brasil e Alemanha, visando estimular a economia de mercado. Em um período tão conturbado da política brasileira, é um trabalho nada fácil da entidade explicar aos possíveis investidores alemães, por exemplo, os escândalos de corrupção trazidos à público com as investigações da Operação Lava Jato, o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff e outros tantos problemas já muito conhecidos por empresários aqui estabelecidos, como a pesada carga tributária e a infraestrutura de baixa qualidade. Mas o alemão, assim como o brasileiro, é persistente: "O Brasil é muito maior que a crise e tem instituições sólidas", disse Hoffrichter, citando, como exemplo dessas instituições, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF). Hoje, estão instaladas no Brasil 1.500 empresas alemãs que empregam 250 mil pessoas.
Os conselheiros da AHK-PR presentes no café da manhã com os jornalistas reconheceram que o momento econômico no Brasil é extremamente difícil, acreditam que o País vai vencer as dificuldades a médio e longo prazo e não pouparam críticas às representações políticas paranaenses. Na opinião deles, o Paraná está carente de grandes lideranças e de importantes projetos de desenvolvimento econômico. Daniel Korioth, da Bosch, considerou que o Paraná está deixando de ser um estado atraente para indústrias estrangeiras por falta de previsibilidade nas regras do jogo, por problemas de infraestrutura e também pelos custos trabalhistas. Max Forte, presidente da Brose do Brasil, observou que além do setor de papel e celulose, o Estado está fraco em grandes anúncios de investimentos. "Estamos carentes de planos mais macros", considerou. O empresário lembrou ainda que o nível educacional dos trabalhadores da indústria paranaense é mais elevado que em outras regiões do País, mas ressaltou que isso não se traduz em maior produtividade e competitividade.
Para outro conselheiro da AHK- PR, o consultor de Recursos Humanos Bernt Entschev, o País está desprovido de bons projetos. "Nossos governantes estão confusos, não sabem e não conseguem fazer um projeto", avaliou. Todos os conselheiros presentes ao encontro frisaram que em momentos de crise investir em inovação é uma parte importante do caminho que garante a sustentabilidade. Emilio Abelenda, diretor da Kleiberit, lembrou que é papel do poder público estabelecer algumas estratégias para motivar as empresas estrangeiras que aqui se instalaram a continuarem no local e também para atrair novas indústrias.
Mas como sobreviver a esse período difícil? Os alemães têm uma dica: controlar os custos e adaptar os produtos às necessidades do mercado. "E no meio desse furacão, nós não podemos perder a visão de futuro, para não estarmos muito encolhidos na hora da arrancada", resumiu Hoffrichter.
A AHK-PR aproveitou o encontro de ontem para divulgar a mais nova invenção alemã: o conceito da indústria 4.0, que seria justamente a quarta revolução industrial – a primeira foi o aprimoramento das máquinas a vapor, a segunda se caracterizou pelo crescimento da produção em série e a terceira foi marcada pelas inovações tecnológicas. A quarta revolução envolveria as principais inovações tecnológicas conhecidas e integrá-las com sistemas Ciber-Físicos e com a Internet das Coisas. Ou seja, a partir dessa revolução, o chão de fábrica deverá ficar mais eficiente e autônomo.
Fonte: Folha de Londrina, 4 de maio de 2016.