Banco Mundial divulgou nesta quinta-feira (26) um conjunto de propostas para que as contas públicas voltem ao azul nos próximos anos, contendo o crescimento do endividamento brasileiro e da taxa de juros cobrada pelo mercado financeiro, além de promover uma agenda que engloba "desafios ambientais".

Chamado de "Dois por Um: Políticas para Atingir Sustentabilidade Fiscal e Ambiental", a publicação propõe um corte amplo de gastos públicos, envolvendo inclusive áreas sociais.

Mas também contempla elevações de impostos, como a tributação de lucros e dividendos e de combustíveis fósseis, e o fim de benefícios fiscais – principalmente para a parcela de maior renda da população.

O diagnóstico e os problemas apontados, assim como as propostas, não são novos. Eles já foram abordados em várias ocasiões por economistas e especialistas em contas públicas.

Entretanto, sempre que mencionados encontram resistência entre a população e o Congresso Nacional por envolver cortes em políticas públicas (várias delas mal focalizadas) e em benefícios.

O Banco Mundial estima que as medidas recomendadas no relatório podem resultar numa melhora do equilíbrio fiscal de mais de 5% do PIB.

Ou seja, seriam suficientes não só para reverter o déficit fiscal de cerca de 0,4% registrado em 2024 como, também, voltar ao superávit acima de 3% do PIB — nível considerado necessário para conter o crescimento da dívida brasileira (já alta para o padrão de países emergentes).

"A rígida estrutura de gastos do Brasil, com grandes alocações para o pagamento de aposentadorias e salários de servidores públicos, impõe desafios. Aumentos automáticos de custos nos principais programas, especialmente nas aposentadorias e pensões pagas a idosos (devido à transição demográfica e à indexação de benefícios), criam pressões fiscais contínuas que dificultam a adesão à regra fiscal de 2023 [arcabouço fiscal]", avaliou o Banco Mundial.

Veja propostas para equilibrar as contas

Agenda do meio ambiente

De acordo com análise do Banco Mundial, os riscos das mudanças climáticas representam um desafio para as metas fiscais e ambientais do Brasil.

Por isso, traz propostas para redução das emissões de gases de efeito estufa, com "impactos positivos" para o crescimento da economia, e, também para o equilíbrio fiscal.

"O Brasil é um grande produtor de gases de efeito estufa (GEEs), com as emissões brutas tendo atingido 2,29 bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (GtCO2e) em 2023. Apesar de os ecossistemas naturais representarem 642 milhões de toneladas em remoções, as emissões líquidas totalizaram 1,65 bilhão de toneladas, tornando o Brasil o sétimo maior emissor global", diz o estudo.

Propostas do Banco Mundial para o meio ambiente:

  1. Introdução de um Sistema de Comércio de Emissões (SCE): Diz que o SCE abrangerá grandes emissores em setores com emissões bem documentadas. A modelagem assume os seguintes índices de cobertura: indústria (80%), transporte (50%), serviços (50%), eletricidade com fontes fósseis (70%) e combustíveis fósseis (90%). A agricultura não está incluída.
  2. Aumento do investimento público em infraestrutura elétrica e transporte de baixo carbono: investimentos pertinente nos setores de energia renovável, geração e transmissão de eletricidade e transportes.
  3. Eliminação dos riscos do investimento privado em eletricidade renovável e biocombustíveis e do prêmio de financiamento de livre mercado sobre investimentos específicos em eletricidade: Banco Mundial diz que uma política de redução dos riscos de investimentos em eletricidade renovável e biocombustíveis implica intervenções para melhorar o clima de negócios e eliminar gradualmente os atuais prêmios de risco, com uma taxa trimestral de eliminação progressiva de 5%, e que uma política modelada elimina gradualmente esse prêmio para investimentos de capital em eletricidade para os setores de agricultura, indústria, transportes e serviços.
  4. Postura mais rigorosa no combate ao desmatamento: estudo avalia que o instrumento conhecido como comando e controle é uma política convencional que o governo poderia adotar para enfrentar o desmatamento no Brasil – em grande parte ilegal.

➡️Por fim, o Banco Mundial avalia que o uso de impostos ambientais pelo Brasil é bastante limitado, enquanto a "experiência internacional demonstra que o aumento da tributação ambiental pode contribuir significativamente para o ajuste fiscal com baixos custos econômicos e benefícios para o bem-estar humano e planetário".

➡️A instituição recomenda aumento da tributação sobre combustíveis fósseis como forma de melhorar as contas públicas e reduzir as emissões de gases poluentes. Pelos cálculos do Banco Mundial, o imposto total seria de R$ 0,91 para a gasolina, R$ 2,26 para o diesel e R$ 0,22 para o etanol.

"Aplicando a estimativa atual para a alíquota-padrão do novo IVA (26,5%) e os preços dos combustíveis em junho de 2024, a carga tributária total chegaria a R$ 2,16, R$ 4,06 e R$ 1,06 por litro para a gasolina, o diesel e o etanol, respectivamente", acrescentou.

G1

https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/06/26/para-conter-endividamento-do-brasil-banco-mundial-propoe-desvinculacoes-reforma-e-imposto-sobre-combustiveis-fosseis.ghtml