Segundo Dieese, 14,1% das negociações não repuseram o INPC. Resultado reflete dificuldades em setores do comércio e turismo, especialmente no Norte. Categorias fortes ainda podem reverter quadro

O mês de setembro apresentou aumento significativo no número de reajustes salariais abaixo da inflação. Isto é, mais acordos sem recomposição total das perdas inflacionárias e do poder de compra das famílias.

De acordo com o boletim De Olho nas Negociações, 61, de outubro de 2025, do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), 14,1% das negociações coletivas analisadas até 6 de outubro não foram suficientes para recompor o poder de compra dos trabalhadores, tomando como referência o INPC/IBGE (Índice Nacional de Preços ao Consumidor).

Em agosto, o percentual de acordos abaixo da inflação havia sido de 7,4%, o que evidencia retrocesso no equilíbrio das negociações coletivas.

O Dieese, ao fim e ao cabo, atribui essa deterioração ao comportamento dos setores de comércio atacadista e varejista, além de turismo e hospitalidade, sobretudo na Região Norte, onde o desempenho econômico mais frágil reduziu o poder de barganha dos sindicatos.

Maioria ainda conquista ganhos reais

Apesar da piora pontual, a maioria dos acordos firmados segue apresentando resultados positivos.

Cerca de 73,7% das negociações registradas em setembro garantiram reajustes acima da inflação, mantendo a tendência observada ao longo de 2025 de leve recuperação do poder de compra.

O Dieese destaca, entretanto, que o avanço das perdas em alguns setores serve de alerta sobre a fragilidade do mercado de trabalho, ainda pressionado por níveis elevados de informalidade e pelo crescimento das contratações precárias — fenômenos que afetam a capacidade de mobilização e negociação dos trabalhadores.

Categorias estratégicas podem alterar cenário

O mês de setembro é tradicionalmente período de forte mobilização sindical, que reúne categorias com grande peso econômico e político — como bancários, metalúrgicos e trabalhadores da construção civil.

Muitas dessas negociações ainda estão em curso e, segundo o Dieese, devem melhorar os índices consolidados nas próximas semanas, que pode elevar o percentual de acordos acima do INPC.

“Essas categorias costumam puxar o índice nacional para cima, pois têm estruturas sindicais mais consolidadas e maior poder de pressão”, consta na avaliação do boletim.

Desigualdade regional e desafios futuros

Os dados de setembro também revelam a persistência das desigualdades regionais. Enquanto regiões como Sudeste e Sul registram mais acordos com ganhos reais, o Norte e parte do Nordeste enfrentam maior dificuldade em acompanhar o custo de vida.

A conjuntura reforça a importância de políticas públicas de valorização do trabalho e fortalecimento da negociação coletiva, especialmente em contexto em que o País ainda discute a revisão da Reforma Trabalhista de 2017 e as novas regras sobre o trabalho em plataformas digitais.

DIAP

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