Quatro marcas com modelos a partir de R$ 100 mil atropelam crise porque clientes são menos sensíveis à retração econômica

 

 

Ricardo Chicarelli
No País, a Audi teve o segundo maior avanço no mercado,
ao comercializar 11 mil unidades entre janeiro e agosto: alta de 40%



 
 

 

O cenário econômico que corroeu a renda do trabalhador, provocou cortes nos orçamentos familiares e levou à retração no consumo parece não existir quando observados os números do mercado de automóveis de luxo. Se consideradas quatro marcas cujos modelos mais baratos estão na faixa de R$ 100 mil, a alta nas vendas chega a 20,8% no acumulado entre janeiro e agosto deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado, segundo o último balanço da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). 
 

Na segunda reportagem da série que apresenta setores e empresas que estão crescendo ou se mantendo apesar da crise, a FOLHA mostra o diferencial no segmento de automóveis de luxo. As explicações começam no fato de essa fatia de clientes sentir menos a crise e pelo lançamento de novos modelos. Ainda, passam por estratégias de venda das empresas, que buscam ganhar mercado para fazer valer o investimento em fábricas nacionais, se enquadrar no programa federal Inovar Auto e poder ter benefícios fiscais ao trazer tecnologia ao País. Por fim, o consultor econômico Marcos Rambalducci, da Associação Comercial e Industrial de Londrina (Acil), cita o efeito psicológico mais latente no mercado de bens superiores, de quanto maior o valor, maior o desejo de consumo. 

O economista afirma que empresários e profissionais liberais que têm acesso a tais veículos também perderam renda, mas que não se encontram em situação tão complicada quanto a classe média. "São pessoas que não deixam de consumir, mas vão fazer uma poupança menor e canalizar o dinheiro para a compra de carros de luxo", diz. "No mercado de bens superiores, quanto maior o preço do produto, mais cobiçado é", completa. 
 

Nos primeiros meses deste ano, a Mercedes-Benz vendeu 12,7 mil veículos no País, ou 42,2% a mais do que os 8,9 mil do mesmo período de 2014, a maior alta entre quatro marcas pesquisadas. Gerente comercial da concessionária da marca em Londrina, a Divesa, Eduardo Tauil considera que o lançamento de cinco novas famílias de modelos alavancou as vendas no País, mas faz uma ressalva. "Tivemos um grande aumento no primeiro semestre, mas começamos a sentir uma queda", diz, ao projetar ao menos 20% de vendas a mais no ano. 
 

O apoio do banco da marca ajudou. "Recebemos muitos produtos novos, com condições boas de comércio e juro zero, e esse é um público que gosta de novidades, mesmo que não compre por emoção", diz Tauil. 
 

A Audi teve o segundo maior avanço no mercado nacional, ao passar de 7,8 mil nos oito primeiros meses de 2014 para 11 mil neste ano, ou 40,4% a mais. "Quando o governo lançou o Inovar Auto, foi construída uma fábrica no Paraná e temos cotas de veículos para bater e justificar a produção aqui", conta o gerente comercial da Eurobike em Londrina, Ilson Mendes. 
 

Como estratégia para alcançar 18 mil automóveis vendidos neste ano, a Audi abriu 40 novas concessionárias em 2014. "Tivemos 1.944 veículos emplacados no mês de agosto, o que representa aumento de 119% sobre o mesmo mês do ano passado", afirma Mendes. 
 

Para o diretor da Euro Import, Ricardo Pereira, a revendedora das marcas BMW e Land Rover segue o crescimento nacional, que passou de 9,3 mil para 9,8 mil, ou 5,4% a mais, por três motivos. "Essa faixa de clientes é menos afetada pela crise, há sempre uma migração natural para cima de quem compra um carro novo e houve desvalorização do real em relação ao dólar sem que houvesse reajuste por aqui, o que vira uma oportunidade", diz. 
 

Pereira cita que, com a disparada do dólar, a BMW 320, por exemplo, ficou mais barata no Brasil do que nos Estados Unidos. "O preço do carro por lá é de US$ 41,7 mil, mais 7% de impostos. Aqui, se considerarmos um dólar a R$ 3,70, sai por menos de US$ 39 mil", explica. 
 

No caso da Land Rover, que vendeu 5,5 mil unidades neste ano ante as 6,2 mil de 2014 e foi a única com queda, de 11,4%, o diretor da Euro Import justifica com a troca de modelos. "A Freelandes deixou de ser comercializada em fevereiro e a Discovery Sport chegou em julho. Não houve crescimento nas vendas do primeiro semestre, mas com certeza teremos no segundo", prevê.



Fonte: Folha de Londrina, 28 de setembro de 2015